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Fernanda Torres: Um Prêmio, Uma Trajetória e o Espelho de Nossa Indústria Criativa.

Foto do escritor: Valéria MonteiroValéria Monteiro

Atualizado: 6 de fev.


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Fernanda Torres:Valéria Monteiro Jornalista.

Poucas atrizes conseguem transitar com maestria entre a comédia, o drama e a tragédia, mas Fernanda Torres não apenas transita: ela reina. Seu talento, lapidado ao longo de décadas, lhe rendeu mais um merecido reconhecimento internacional. Como não sentir orgulho de uma artista que nos emociona com a força de suas interpretações e a profundidade que dá a cada personagem? Sua carreira é um testamento de como o Brasil é uma mina de ouro em termos de criatividade e talento, mas também de como nossa indústria cultural luta para brilhar no cenário global.


Fernanda ganhou o prêmio interpretando a complexidade da alma humana, algo que faz como poucas. Sua Irene, em Os Normais, é um ícone do humor brasileiro, com a emblemática frase: “Você acha normal isso, Rui?”. E como esquecer sua Vani, do filme O Que É Isso, Companheiro?, ou sua atuação visceral em Eu Sei Que Vou Te Amar, que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes em 1986? Fernanda sempre encontra o tom exato, seja para arrancar risadas, lágrimas ou provocar reflexões.


Entretanto, enquanto celebramos sua vitória, é inevitável refletir sobre um fenômeno recorrente no Brasil: a tendência de concentrar nossas reverências em uma única personalidade por vez. Fernanda Torres é um tesouro, sem dúvida, mas não podemos ignorar o talento de outras gigantes como Andréia Beltrão, Glória Pires e Camila Morgado. Esses nomes, e tantos outros, seriam ainda mais reconhecidos e celebrados em uma indústria cinematográfica sólida e constante, que não precisasse viver de “solavancos” de esperança.


De tempos em tempos, somos brindados com filmes que colocam o Brasil sob os holofotes: Central do Brasil, com Fernanda Montenegro; Tropa de Elite, que trouxe uma narrativa impactante sobre a realidade brasileira; e agora, a premiação de Fernanda Torres. Mas por que nossa produção audiovisual não mantém essa constância? Por que ainda não conseguimos sustentar uma indústria que valorize a riqueza de talentos criativos que temos?

Fernanda Torres um prêmio uma trajetória.

A resposta pode estar enraizada em uma cultura que historicamente desvaloriza as profissões ligadas às artes. No Brasil, artistas frequentemente enfrentam o preconceito de serem vistos como “diletantes” ou “vagabundos”. Quem não se lembra da absurda pergunta feita ao cantor e compositor Beto Guedes pelo então governador de Minas Gerais, questionando o que ele fazia profissionalmente? Esse tipo de visão revela um profundo desconhecimento do valor da arte e de sua contribuição para a identidade e a economia de um país.


Além disso, a falta de políticas públicas consistentes para fomentar a produção audiovisual é


evidente. Incentivos fiscais e editais esporádicos são importantes, mas insuficientes para construir uma indústria sustentável. Em países como França, Coreia do Sul e Estados Unidos, a cultura é vista como um pilar econômico e estratégico. No Brasil, ainda lutamos para que a arte seja reconhecida como um setor vital e não como um luxo.


Para mudar esse cenário, é fundamental investir em educação artística desde cedo, reforçando o valor da arte como uma carreira legítima. Políticas públicas que estimulem a produção audiovisual em todas as regiões do país podem descentralizar a criação e revelar novos talentos. Além disso, precisamos de uma mentalidade que valorize não apenas o produto final, mas todo o processo criativo, entendendo a arte como uma ferramenta de transformação social e econômica.


Fernanda Torres, com sua trajetória brilhante, é a prova de que temos o que é necessário para brilhar no mundo. Que este prêmio seja um lembrete da potência criativa brasileira e um estímulo para fortalecer nossa indústria. Imagine um Brasil onde todos os anos possamos levar ao mundo histórias que reflitam nossa humanidade, nossa ousadia e nosso talento.


Parabéns, Fernanda! Que sua vitória inspire não apenas outros artistas, mas também políticas e iniciativas que nos ajudem a alcançar o reconhecimento que nossos criadores merecem. E que possamos, um dia, ver nosso caldo criativo não apenas fazer história de tempos em tempos, mas ser um fluxo contínuo de inovação e inspiração para o mundo.


Fernanda Torres: Um Prêmio, Uma Trajetória e o Espelho de Nossa Indústria Criativa.

Valéria Monteiro Jornalista.



 
 
 

1 Comment

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Guest
Jan 10
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Muito bom. 👏

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