Desde sua primeira eleição, Donald Trump se apresentou como um empresário que governaria os Estados Unidos como uma corporação. Em sua segunda presidência, essa lógica parece ter sido levada ao extremo, transformando o governo americano em uma espécie de conglomerado privado, onde Trump assume o papel de CEO, Elon Musk opera como diretor de operações (COO) e JD Vance figura como vice-CEO. O secretariado e o Congresso Republicano atuam como um conselho administrativo, garantindo que os interesses da “Grande Corporação América” sejam protegidos e distribuídos entre os mais ricos e poderosos.
Essa configuração inédita redefine o papel dos Estados Unidos no mundo e reforça alianças com governos autoritários, que veem na administração Trump um reflexo de seus próprios modelos de controle político e econômico. Em vez da tradicional diplomacia e da defesa da democracia como pilar do soft power americano, temos uma gestão voltada para a maximização de lucros e a defesa intransigente dos interesses empresariais, independentemente do impacto sobre os cidadãos ou o equilíbrio geopolítico.
O impacto dessa mudança é profundo. No cenário global, a aproximação dos Estados Unidos com regimes autoritários legitima práticas antidemocráticas e enfraquece instituições internacionais que foram fundamentais para a estabilidade do pós-guerra. A política externa americana, antes baseada em acordos multilaterais, agora opera sob uma lógica transacional e unilateral, onde cada relação internacional é tratada como uma negociação comercial, sem compromisso com valores tradicionais como direitos humanos e cooperação global.

Para o restante do mundo, essa transformação implica um aumento da instabilidade. A dependência de grandes corporações para ditar rumos políticos pode levar a um enfraquecimento de regulações ambientais, trabalhistas e de direitos fundamentais, aprofundando desigualdades e tornando as economias mais vulneráveis a crises financeiras e políticas. A fusão entre governo e interesse privado também cria uma elite transnacional que não responde mais às demandas democráticas de suas nações, mas sim a acionistas e investidores.
Enquanto isso, os cidadãos comuns, tanto nos EUA quanto fora deles, veem-se cada vez mais marginalizados nas decisões que moldam seu futuro. A governança baseada em métricas de lucro e eficiência produtiva exclui considerações humanitárias, sociais e ambientais. O que acontece quando um governo se torna indistinguível de uma corporação? Essa é a nova experiência dos EUA sob Trump – uma experiência que redefine os limites entre poder público e privado e que, inevitavelmente, impacta todo o mundo.
Se os Estados Unidos continuarem nessa trajetória, teremos um modelo de governança onde a democracia é apenas uma fachada para a consolidação de um poder econômico absoluto. O mundo precisa estar atento a essa transformação, pois seu impacto não será sentido apenas na América, mas em todas as nações que ainda acreditam na política como instrumento de construção coletiva e não apenas como um negócio para poucos privilegiados.
Donald Trump e a Nova Experiência dos EUA: Um Mundo Sob a Lógica Empresarial.
Valéria Monteiro Jornalista.
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