Há 80 anos, em janeiro de 1945, os portões de Auschwitz se abriram, revelando ao mundo o horror de um dos maiores crimes contra a humanidade. Mais de um milhão de pessoas foram assassinadas naquele campo, que se tornou símbolo do Holocausto. A maioria era de origem judaica, mas também incluía Romas (ciganos), pessoas com deficiência, soldados soviéticos, homossexuais, dissidentes políticos e tantas outras vítimas que não se encaixavam na visão de “pureza” propagada pelo regime nazista. A dimensão do sofrimento é inimaginável, e o peso da memória nos desafia a nunca esquecer.
Embora eu nunca tenha visitado Auschwitz, estive em Dachau, o primeiro campo de concentração nazista, localizado na Bavária. Criado em 1933, logo após Hitler assumir o poder, Dachau foi concebido como um modelo para outros campos que viriam a ser erguidos e como uma ferramenta de repressão contra opositores políticos — principalmente comunistas e social-democratas. Com o tempo, Dachau evoluiu para algo ainda mais terrível: um local de experimentos desumanos, tortura e assassinato sistemático. Caminhar por aquele lugar é enfrentar o peso esmagador do passado, um silêncio carregado de dor que se recusa a ser ignorado.
Auschwitz, por sua vez, tornou-se o principal símbolo do Holocausto, mas tanto ele quanto Dachau e outros campos nos mostram que o horror não surgiu de um dia para o outro. O nazismo insurgente encontrou solo fértil em uma Alemanha fragilizada, onde promessas de recuperação econômica e restauração do orgulho nacional seduziram muitos. Não apenas alemães, mas pessoas de outras nacionalidades também apoiaram, direta ou indiretamente, a ascensão de Hitler. A retórica de força e prosperidade mascarou o ódio, o preconceito e a exclusão, que gradualmente foram institucionalizados, resultando no genocídio.
Hoje, enquanto relembramos a liberação de Auschwitz, é impossível ignorar os sinais de alerta que o mundo contemporâneo nos dá. Incubadoras de intolerância, autoritarismo e preconceito continuam a surgir em diferentes partes do mundo. Esses movimentos começam sutilmente, disfarçados de discursos de unidade, segurança ou progresso, mas carregam a mesma semente de exclusão e violência que deu origem ao Holocausto. Auschwitz nos lembra que tragédias dessa magnitude não acontecem da noite para o dia. Elas são construídas lentamente, alimentadas pela indiferença e pela normalização do ódio.
A celebração dos 80 anos da liberação de Auschwitz não é apenas um marco histórico. É um apelo à ação. É um chamado à empatia, à vigilância e ao compromisso com a dignidade humana. Auschwitz e Dachau não podem ser vistos apenas como relíquias do passado, mas como lições urgentes para o presente.
Que a memória de Auschwitz e de todos os campos de concentração nazistas honre as milhões de vidas perdidas. Que judeus, Romas, pessoas com deficiência, dissidentes políticos, homossexuais e todas as vítimas desse regime sejam sempre lembrados. Auschwitz não é apenas um local de memória histórica; é um alerta constante para que nunca mais permitamos que o ódio tome as rédeas da humanidade.
80 anos da liberação de Auschwitz: memória, lição e alerta.
Valéria Monteiro Jornalista.

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