Azeite:
E o Preconceito na Cesta Básica.

O governo anunciou ontem que cortará a taxa de importação de alimentos da cesta básica, incluindo itens como carne, café e azeite. As medidas foram apresentadas de forma impetuosa e ainda devem passar por ajustes, então vou evitar entrar nos aspectos técnicos do anúncio, cujo objetivo é conter a inflação dos alimentos – que, aliás, quase me causou um ataque cardíaco na última vez em que fui ao supermercado. Vale lembrar que essa inflação também impacta diretamente a popularidade do governo, que enfrenta desgaste entre a classe média, justamente aquela que, em grande parte, apoiou sua candidatura temendo ameaças à democracia. Será que a classe média não tem direito de ser contemplada em medidas de alívio econômico, assim como aqueles que vivem na miséria absoluta?
Entre os muitos debates que surgiram, o do azeite foi o que mais me chamou a atenção: a polêmica sobre a inclusão do azeite na lista de alimentos que terão isenção de impostos de importação.
A controvérsia, a meu ver, carrega um viés preconceituoso. Alguns comentaristas questionaram a medida, argumentando que o azeite não seria um item essencial para o brasileiro, como a carne, e, portanto, não justificaria a isenção.
O que me chama ainda mais a atenção é a suposição de que a carne é um item essencial na mesa do brasileiro, enquanto o azeite não seria. Esse raciocínio revela um preconceito enraizado em nossa cultura alimentar e social. A ideia implícita é que as classes mais baixas não devem ou não podem buscar uma alimentação mais equilibrada e saudável – como se sua dieta fosse algo fixo e imutável, sem espaço para escolhas mais conscientes.
Especialistas em saúde recomendam a redução do consumo excessivo de carne vermelha, e um dos principais aliados de uma alimentação saudável é o azeite de oliva. Inúmeros estudos comprovam que seu consumo regular traz benefícios cardiovasculares, melhora a digestão e até contribui para a longevidade. Então, por que questionar a inclusão desse item na lista de isenção? Será que o incômodo real não está no fato de que um produto tradicionalmente considerado “elitizado” pode se tornar mais acessível a todos? Afinal, uma garrafa de azeite extra virgem mais barata custa em torno de 50 reais! Como esperar que esse item esteja presente na mesa da maioria dos brasileiros sem medidas que facilitem seu acesso?
Curiosamente, ninguém parece contestar a presença do óleo de soja ou de produtos ultraprocessados entre os alimentos mais consumidos pela população, mesmo sabendo que seu uso excessivo está associado a sérios problemas de saúde. A polêmica, portanto, não parece ser sobre a essencialidade do azeite, mas sim sobre a resistência em ampliar o acesso a alimentos de maior qualidade.
Diante disso, fica a pergunta: essa controvérsia nasce de uma preocupação legítima com a política tributária e seus impactos na economia, ou é mais um reflexo de um pensamento retrógrado que insiste em limitar o que os brasileiros podem ou não consumir? Talvez seja hora de superarmos certos preconceitos e reconhecermos que uma política alimentar não deveria se restringir à contenção de preços, mas sim refletir uma sociedade que busca evoluir e oferecer mais saúde e qualidade de vida para todos os seus cidadãos.
