O Primeiro Oscar e a Evolução do Cinema sobre a Primeira Guerra Mundial.

Uma jornada que começou com "Asas" e transformou o cinema de guerra em um espelho das tragédias e da resiliência humana.
O primeiro Oscar de Melhor Filme foi entregue em 1929, durante uma cerimônia intimista no Hollywood Roosevelt Hotel, em um jantar com cerca de 270 convidados. O mundo ainda se recuperava dos efeitos da Primeira Guerra Mundial, e os anos 1920 eram marcados por grandes mudanças culturais, econômicas e tecnológicas, incluindo a ascensão de Hollywood como a capital mundial do cinema.
O vencedor da categoria foi “Asas” (Wings), um épico de guerra dirigido por William A. Wellman. Este foi o único filme mudo a ganhar o Oscar de Melhor Filme, marcando o fim da era do cinema silencioso, pois, na época, o advento dos filmes falados — com o pioneiro “O Cantor de Jazz” (1927) — já começava a transformar a indústria cinematográfica.
“Asas” trouxe uma combinação inovadora de drama, romance e efeitos visuais impressionantes para a época. O filme contava a história de dois pilotos americanos que lutavam na Primeira Guerra Mundial, disputando tanto a sobrevivência nos céus quanto o amor de uma mulher, interpretada por Clara Bow, uma das maiores estrelas do cinema mudo e conhecida como a “It Girl” dos anos 1920. Os protagonistas masculinos foram Charles “Buddy” Rogers e Richard Arlen, que também contribuíram para a autenticidade das cenas de combate aéreo com suas performances corajosas. Outro destaque do elenco foi o jovem Gary Cooper, em uma breve aparição que ajudou a lançar sua carreira.
O impacto de “Asas” foi sentido tanto pelo uso inovador de efeitos práticos nas cenas de aviação — algumas filmadas com os atores em pleno voo — quanto pelo nível de produção nunca antes visto, que estabeleceu novos padrões para o cinema épico. Além disso, o filme solidificou a relevância do Oscar como uma plataforma para reconhecer a excelência e impulsionar a indústria do entretenimento em um momento de transformações culturais e tecnológicas.
A Primeira Guerra Mundial no Cinema
“Asas” foi um marco não apenas como vencedor do Oscar inaugural, mas também no gênero dos filmes sobre a Primeira Guerra Mundial, que ganhou relevância desde os primórdios do cinema. Desde então, dezenas de produções exploraram esse conflito histórico, cada uma com abordagens diferentes, acompanhando a transformação da linguagem cinematográfica ao longo das décadas.
Nos anos seguintes, outros títulos notáveis deram continuidade ao legado de “Asas” ao retratar os horrores e as complexidades da Primeira Guerra. Entre eles, destaca-se “Nada de Novo no Front” (1930), que também venceu o Oscar de Melhor Filme e é considerado um dos retratos mais poderosos e realistas do impacto psicológico da guerra nos soldados. Já em 1971, “Johnny Vai à Guerra”, de Dalton Trumbo, trouxe uma abordagem introspectiva e pacifista, expondo as sequelas físicas e emocionais do conflito.
Transformação da Linguagem no Gênero
Com o passar dos anos, a linguagem dos filmes de guerra evoluiu, passando de uma visão heroica e glorificada para perspectivas mais críticas e intimistas. Essa transformação ficou evidente em produções contemporâneas como “Cavalo de Guerra” (2011), dirigido por Steven Spielberg, que apresenta a guerra sob o olhar de um cavalo e explora conexões humanas em meio ao caos, e a recente adaptação de “Nada de Novo no Front” (2022), que reviveu a obra clássica com um olhar moderno e visualmente impactante, conquistando quatro Oscars, incluindo Melhor Filme Internacional.
Além desses, outros títulos que merecem a atenção dos cinéfilos incluem:
• “Glória Feita de Sangue” (1957), de Stanley Kubrick, um filme profundamente crítico sobre a liderança militar e os sacrifícios dos soldados.
• “A Grande Ilusão” (1937), de Jean Renoir, que explora os temas de classe social e humanidade em tempos de guerra.
• “1917” (2019), de Sam Mendes, um feito técnico impressionante com narrativa contínua que coloca o espectador no coração do campo de batalha.
Esses filmes, cada um em seu tempo, mostram como o cinema moldou a narrativa da Primeira Guerra Mundial, ampliando o entendimento do conflito e humanizando as histórias de quem viveu suas tragédias. Desde a ação aérea de “Asas” até as narrativas modernas mais íntimas e críticas, o gênero continua a evoluir, oferecendo um poderoso espelho para refletirmos sobre os horrores da guerra e a resiliência humana.
