top of page

As mulheres (in)visíveis da Inconfidência Mineira.

Por Valéria Monteiro p/ Revista Mundaréu.

As mulheres (in)visíveis da Inconfidência Mineira.

Março chegou, e com ele o mês das Mulheres. Aproveitando também a nova parceria do site com a revista Mundaréu, achei mais do que justo dedicar este espaço a contar um pouco sobre as mulheres que estiveram envolvidas — direta ou indiretamente — na Inconfidência Mineira. Essas histórias raramente ganham destaque, mas merecem (e muito!) ser lembradas.

Quando a gente pensa na Inconfidência, logo vem à mente Tiradentes: a barba, a forca, o discurso pela liberdade. Mas e as mulheres? Onde estavam? O que viveram, o que sentiram, enquanto seus companheiros, filhos, pais ou irmãos conspiravam contra o domínio português?

A verdade é que a história sempre deu mais palco pros homens. As mulheres, como em tantos outros momentos, foram jogadas para os bastidores. Mesmo assim, estavam lá. Resistindo, amando, sofrendo e, muitas vezes, agindo com uma coragem que ninguém ensinou nos livros da escola.

Sebastiana e as outras
Quase ninguém fala da Sebastiana, amante de Tiradentes e mãe de sua filha. Não está nos livros didáticos, mas existiu. Imagina viver à sombra de um homem que virou herói ou traidor, dependendo de quem conta a história. Como foi pra ela criar uma filha com esse peso? Enfrentar o julgamento silencioso (ou nem tanto) das pessoas ao redor? Essas perguntas ficam no ar, mas o silêncio também fala.

Ou então a Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, mulher forte que apoiou financeiramente a Inconfidência. Ela não estava ali só como expectadora — se envolveu de verdade. Como tantas outras, desafiou o que se esperava de uma mulher da época e pagou o preço.

Porque sim, as mulheres da Inconfidência também foram punidas. Só que de formas menos visíveis. Suas dores foram ignoradas, seus nomes esquecidos, seus atos de coragem varridos pra debaixo do tapete da história. Enquanto os homens tiveram seus nomes gravados em praças, avenidas e monumentos, elas ficaram no esquecimento — e isso também é um tipo de castigo.

E mesmo hoje, pra sermos reconhecidas, parece que ainda temos que ser Joanas d’Arc — sofrer, resistir, provar mil vezes nosso valor. E quando enfim nos aplaudem, é como se fosse um prêmio por termos sobrevivido ao fogo. Mas essa conversa fica pra um próximo post.

Por enquanto, que fique claro: as mulheres estavam lá. E seguem aqui.

Se você também acredita que a leitura pode abrir caminhos e nos ajudar a enxergar melhor o mundo (e a nós mesmas), deixo aqui uma dica valiosa: o livro Independência do Brasil – As mulheres que estavam lá, organizado por Heloísa Starling e Antônia Pellegrino, publicado pela editora Bazar do Tempo. São histórias de figuras como Bárbara de Alencar, Maria Felipa de Oliveira, Maria Quitéria, Dona Leopoldina, entre outras. Mulheres incríveis, corajosas, inspiradoras.

A gente precisa aprender a se ver na história. A reconhecer as que vieram antes, a entender nosso papel agora, e a deixar espaço pra quem ainda vai chegar. Só assim vamos mudar, de verdade, o reconhecimento das mulheres que foram, que são e que serão — nossas heroínas.

Valéria Monteiro Jornalista.jpg
Valéria Monteiro Jornalista.
11 de março de 2025 às 22:39:19
bottom of page