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Sal no Corpo e Bons Augúrios.

Um reencontro com o Rio, Paraty e Itamambuca, onde cada parada trouxe memórias, conexões e novos começos.

Sal no Corpo e Bons Augúrios.

Há mais de dois anos eu não sentia o cheiro do mar. As ondas quebrando ritmadas, o calor da areia moldando os passos, o sal secando na pele sob o sol – tudo isso, que já foi rotina, parecia um sonho distante. Mas, depois do Natal, consegui escapar para reencontrar o mar, e assim 2025 começou com os melhores presságios.

Minha primeira parada foi o Rio, onde meu amor pela cidade maravilhosa se renova a cada visita. No Leblon, a barraca do Aguiar – agora conduzida pela filha dele, Maria, que dá continuidade ao legado do pai com graça e dedicação – foi meu ponto de conexão com o passado e o presente. É ali, desde a adolescência, entre um mate gelado e o frescor de um mergulho, que meus laços com o Rio se aprofundam. Para completar o acolhimento, mais uma vez Iza abriu as portas de seu apartamento para mim, recebendo-me com o carinho e a liberdade que só alguém generoso sabe oferecer.

No meio da jornada, um encontro fortuito e bem-vindo com uma amiga também de Campinas trouxe mais leveza à viagem. Decidimos compartilhar a estrada e as paisagens, prolongando aquela sensação de férias. Seguimos pelo litoral sem pressa, abraçando o ritmo do caminho e deixando as horas se dissolverem na troca de risadas e histórias.

Em Paraty, nos hospedamos em uma pousada que parecia um segredo bem guardado. A localização era perfeita, a atmosfera tranquila, os lençóis macios e cheirosos, e o café da manhã, um espetáculo. Uma mesa generosa nos recebia de manhã: frutas frescas, pães artesanais, bolos caseiros, suco de laranja espremido na hora, e ainda ovos e tapiocas preparados com carinho. A pequena equipe, composta pelos próprios donos – artistas uruguaios apaixonados por Paraty –, servia cada detalhe com alegria. Passear pelas ruas de pedra, entre fachadas coloniais, marinas repletas de barcos e o aroma do mar, era como viajar no tempo. Paraty tem o poder de desacelerar a alma e fazer você respirar fundo.

A última parada foi em Itamambuca, Ubatuba, onde o tempo parecia ganhar outra textura. Há algo quase místico naquela praia – o mar de tons variados, a vegetação densa que abraça a areia, a água transparente e quase morna que convida a um mergulho quase meditativo. Cada vez que o corpo tocava o mar, era como uma conversa silenciosa com o divino. Saímos antes do que gostaríamos, com a promessa de voltar, mas queríamos chegar em casa antes que o dia escurecesse.

Pegamos a BR-101 e, com alívio, escapamos da temida Dutra pela nova extensão da Tamoios, que nos levou direto à Dom Pedro. O cansaço do congestionamento em Ubatuba foi amenizado pelas boas conversas e pelas memórias ainda frescas das paradas pelo caminho.

Ao chegar em casa, o chuveiro misturou o sal do corpo com as lembranças vivas da viagem, num ritual perfeito de transição entre o descanso e o recomeço.

Se o ano começou assim – com o calor das amizades, a generosidade de quem nos acolhe e a beleza da estrada –, é impossível não acreditar que 2025 será repleto de boas surpresas.

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Valéria Monteiro Jornalista.

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